1º de Maio de 2022: MENSAGEM AOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS

“O TRABALHO É FONTE DE VIDA: LUTEMOS CONTRA O DESEMPREGO, A INFORMALIDADE E A PRECARIAÇÃO!”

“Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância.” (Jo 10, 10).

Caríssimos irmãos e irmãs,

Neste 1º de maio, no contexto de tantas vidas ceifadas pela Pandemia da Covid 19 e de tantas pessoas que perderam o seu emprego, queremos nos dirigir aos trabalhadores e trabalhadoras da Arquidiocese de Campinas, convidando-os para junto conosco refletirmos sobre a importância do trabalho para a vida em sociedade, resgatando seu sentido bíblico de fonte geradora de vida e de felicidade. O trabalho, à luz do testemunho de Jesus de Nazaré e do Ensino Social da Igreja, precisa ser protegido, defendido, porque sem ele não há vida plena. Em outras palavras: sem trabalho digno os homens e as mulheres não tem honra, tal qual nos ensinou o poeta. Sem honra, as pessoas morrem, se perdem, se matam. Sem trabalho não dá para ser feliz!

Missa 1º de maio de 2022 - Dia do trabalho - Pastoral Operária - Catedral de Campinas, SP
Missa 1º de maio de 2022 – Dia do trabalhador e da trabalhadora – Pastoral Operária – Catedral de Campinas, SP

Convidamos todos/as a pensar sobre o quanto a Pandemia acelerou em nosso país mecanismos de destruição dos postos de trabalho em todos os setores da economia, mediante um processo decisório que o Papa Francisco tem chamado de “cultura do descarte” (Cf. Fratelli Tutti). Como inúmeros estudos tem demonstrado, a crise econômica do capitalismo somada à crise sanitária do novo corona vírus resultou, ao fim e ao cabo, em uma situação devastadora para os trabalhadores/as. Além das dezenas de vidas ceifadas pelo vírus, constatamos um significativo aumento do empobrecimento das famílias, do desemprego, da miséria e da informalidade. As dezenas de irmãos e irmãs nossos em situação de rua em uma cidade rica e moderna como Campinas ilustra muito bem o brutal processo de exclusão social acelerado pela crise pandêmica. É verdade que a pandemia somente agravou essa realidade e que estaríamos em condições melhores se o governo federal tivesse agido em sintonia com as outras esferas de poder, para reduzir o avanço da covid-19 e suas variantes: com o isolamento social, auxílio emergencial e vacina para todas e todos. Como afirmou com muita lucidez o Papa Francisco na sua mensagem aos participantes da 109ª Conferência Internacional do Trabalho, realizada em Genebra: a falta de medidas de proteção social diante do impacto da Covid-19 propiciou o aumento da pobreza, do desemprego, subemprego, o atraso da inserção dos jovens ao mercado de trabalho, a exploração infantil, o tráfico de pessoas, a insegurança alimentar e uma maior exposição a infecções para os doentes e idosos. (Cf, Vatican News, 17/06/2021)

Missa 1º de maio de 2022 - Dia do trabalho - Pastoral Operária - Catedral de Campinas, SP
Missa 1º de maio de 2022 – Dia do trabalhador e da trabalhadora – Pastoral Operária – Catedral de Campinas, SP

Nosso país, historicamente marcado pela intensa exploração e precarização do trabalho, conta agora com cerca de 40% de sua força de trabalho na informalidade com milhares de trabalhadores inseridos na chamada uberização, ou seja, submetidos às novas modalidades de trabalho precário realizado por intermédio de aplicativos e plataformas digitais, caracterizadas, sobretudo, pela ausência de vínculo empregatício e de direitos trabalhistas. Recordemos aqui a vida de centenas de jovens que percorrem as avenidas e ruas de nossas cidades com suas motos correndo contra o tempo para entregar comida, peças de automóveis, remédios, livros etc. Não esqueçamos dos motoristas e seus carros conectados às plataformas digitais, dos trabalhadores/as de Call Center, dos trabalhadores do comércios e serviços com suas longas e estafantes jornadas de trabalho e de tantos homens e mulheres submetidos ao complexo processo de trabalho em Home Office. Estes trabalhadores/as que de alguma forma cruzam conosco pelas ruas de nossas cidades ou mesmo integram nossas famílias, engrossam, de alguma maneira, ainda mais, as estatísticas de precarização, penosidade laboral, terceirização, subemprego, trabalho intermitente e desemprego.

Recordemos também o quanto a Pandemia afetou de forma diferente a homens e mulheres. Sem dúvida, as mulheres foram mais impactadas tendo em vista o aumento da carga de trabalho doméstico, o cuidado com os filhos e o aumento da violência doméstica em todas as suas formas e do feminicídio durante a fase mais dura de isolamento social. As mulheres negras, por sua vez, vivenciaram uma realidade ainda mais perversa devido ao fato de se encontrarem em condições de vida e de trabalho bem mais desprotegidas e precárias.

Missa 1º de maio de 2022 - Dia do trabalho - Pastoral Operária - Catedral de Campinas, SP
Missa 1º de maio de 2022 – Dia do trabalhador e da trabalhadora – Pastoral Operária – Catedral de Campinas, SP

No campo educacional, de modo especial na educação básica, a Pandemia possibilitou a aceleração de práticas como a da educação à distância, transformando as escolas, de norte a sul do país, em verdadeiro laboratório da “educação do futuro”. Os Professores se viram de um dia para o outro submetidos à dinâmica do ensino remoto presenciando, em muitas circunstâncias, o abismo econômico e social que separa as famílias com internet e computadores daquelas que simplesmente lutam para fugir do abandono, da fome e da miséria. Com as escolas fechadas inúmeras crianças das periferias de nossa cidade ficaram privadas da refeição diária completa a que tinham acesso e não poucas, de modo especial as adolescentes, se viram às voltas com o fantasma do assédio e do abuso sexual. No ano em que a Igreja do Brasil convida-nos a refletirmos sobre fraternidade e a educação, não esqueçamos que a educação precisa ser pública e de gestão pública e que a sua qualidade passa pela valorização de todos os trabalhadores da educação. A escola, como um bem público, tal qual sonharam Anísio Teixeira, Nísia Floresta, Paulo Freire e tantos outros “profetas laicos”, não pode ser gerida pelo mercado e ao sabor de suas conveniências imediatistas por meio de processos de privatização que desfiguram o seu caráter universal, republicano e emancipador.

Nestes tempos pandêmicos no qual constatamos o quanto os ricos ficaram mais ricos e os trabalhadores mais pobres resgatemos a solidariedade como nosso arma contra o desalento, o abandono, a fome e a precarização do trabalho. Alimentemos o nosso coração, a nossa alma e o nosso pensamento de uma solidariedade que abrace causas urgentes e imediatas de ajuda contra a fome, a violência em todas as suas formas, a doença e a morte de nossos irmãos trabalhadores/as, assim como se constitua como uma solidariedade curiosa e inquieta que não perca de vista o estudo, a denúncia e a luta cotidiana contra as causas estruturais da falta de trabalho, de terra, e de moradia para nossa gente.

Missa 1º de maio de 2022 - Dia do trabalho - Pastoral Operária - Catedral de Campinas, SP
Missa 1º de maio de 2022 – Dia do trabalhador e da trabalhadora – Pastoral Operária – Catedral de Campinas, SP

Que São José Operário, que na carpintaria de Nazaré ensinou a Jesus a dignidade e a beleza de uma profissão, nos inspire na luta diária por vida e dignidade, e que Deus seja nossa luz e salvação (cf. Sl 27,1).

Comissão Arquidiocesana de Pastoral Operária da Arquidiocese de Campinas – SP