Ao celebrarmos o Jubileu da Pastoral Operária Nacional, gostaria de enfatizar a importante contribuição que essa Pastoral deu a Igreja de Campinas. A PO iniciou em Campinas em 1973 com o irmão leigo Terencio. Em 1974, já existiam grupos que se reuniam nas Vilas Planejadas utilizando o método VER-JUGAR-AGIR. A partir de 1975, os grupos começaram a estudar a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e a História da Classe Operária. Era um trabalho lento, persistente e formou-se a equipe de Pastoral Operária de Campinas. Em 1976, participou pela primeira vez do conselho Arquidiocesano de Pastoral (CAP), tendo o reconhecimento oficial da Igreja de Campinas. Em 1978, partindo dessas discussões, formou-se a 1ª chapa de oposição metalúrgica.
Os chamados Grupos de Base surgiram para proporcionar relações de amizade e de fraternidade. O Grupo de Base como espaço de aprofundamento da Fé a partir do Trabalho, da experiencia do Povo de Deus, no seguimento de Jesus de Nazaré e da Doutrina Social da Igreja. Revisão de vida Operária e a nossa Mística de trabalhador e trabalhadora (oração, celebração estudo e ação). Promoção de formação através de debates e encontros de aprofundamento da palavra de Deus lida a partir do trabalho e da vida dos trabalhadores/as.
No início de 1978, o movimento Operário deu seu grande salto. O compromisso da PO foi participar ativamente nas oposições sindicais atuando com a presença de seus militantes na reconquista e renovação de vários sindicatos. Presença nas fabricas, comissões, no movimento sindical (direções) e movimentos populares. Participação ativa na vida da classe operária. Neste momento já tínhamos estrutura suficiente para montar um pequeno boletim quase mensal, que é publicado até os dias de hoje com o mesmo nome O Gancho.
Nos anos 90, a PO travou uma luta contra o desemprego, pela implantação do passe-desempregado na cidade. Conquistamos o direito dos desempregados e desempregadas ter o passe e poderem se locomover em busca de uma recolocação no mercado de trabalho. Foi promovido, no centro de Campinas, o café com os desempregados/as. As segundas-feiras, a saudosa irmã Genô e outros companheiro/as, com uma cadeira e uma mesinha, recorte de jornais com notícias de emprego estavam na praça prontos para escutar as angústias dos trabalhadores/as desempregados/as. Após a escuta, era oferecido um café. A partir da escuta buscamos qualificar melhor as causas do desemprego e seus efeitos nas famílias, realizando uma pesquisa em parceria com o Instituto SESIT da Unicamp.
Outras experiências importantes foram a criação de cooperativas, uma na área da construção civil, chamada de “Mão na Massa”, composta por pedreiros, carpinteiros, serventes, encanadores e na culinária, o “Prato Cheio”, composta por companheiras mestras no preparo de alimentos. Também curso de conserto de máquinas de lavar oferecido pelo Valdemar, companheiro militante da PO. Isso foi importante para dar um alento para recompor a esperança dos trabalhadores e trabalhadoras.
Na gênese dos movimentos sociais dos anos 70 e 80, podemos identificar a mulher, que emerge criando e ocupando espaços na sociedade enquanto sujeito coletivo. Ainda que um processo tímido, mas corajoso de saída da condição da periferia para a nova mulher. Nesse contexto que a PO de Campinas se torna protagonista dentro da Igreja e na sociedade como o marco de um novo jeito de tratar a mulher trabalhadora, reconhecendo nela a sua condição de sujeito transformador.
A PO contribuiu e contribui na Arquidiocese de Campinas com sua participação ativa na elaboração de Planos de Pastoral. De modo especial, a dimensão do compromisso social, da preocupação com os pobres, análise de conjuntura, ecumenismo, diálogo inter-religioso, sobretudo a dimensão do Trabalho e da Vida dos trabalhadores/as.
Marcamos presença com celebrações e atividades em nível de Arquidiocese junto com as CEBs e Pastorais Sociais, sempre utilizando o Método Ver-Julgar-Agir e Celebrar: Missas do 1º de maio na Catedral, celebrações, Caminhada dos Mártires, Romarias dos Trabalhadores/as à Aparecida, Romaria da Terra e das Águas, Grito dos Excluídos/as, Vigília São Oscar Romero, Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, etc.
A PO de Campinas possibilitou e possibilita um olhar a realidade do mundo do Trabalho sem esquecer a Fé e Vida, alicerçadas na Palavra de Deus e ensinamentos da Doutrina Social da Igreja. Por Trabalho digno, Terra e Teto, seguimos na luta com esperança-esperançada em busca de dias melhores.
Vagner Beli
Pastoral Operária Campinas – SP
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