Em 2021, em um contexto de pandemia, que impõe distanciamento social e restrições às mobilizações de rua, as mulheres seguem em luta e não estarão em silêncio e nem desconectadas.
Como sempre, as mulheres são que mais sofrem os impactos provocados pela pandemia, são as que garantem a sustentabilidade da vida. Não paramos um segundo durante a pandemia, assumindo tarefas domésticas e de cuidado redobradas. São elas, sobretudo negras e pobres, a maioria das profissionais da saúde e de serviços na linha de frente do enfrentamento à covid-19.
É neste contexto de distanciamento social e de sobrecarga do trabalho de cuidados que cresce assustadoramente a violência contra a mulher, uma violência que é estrutural, autorizada e naturalizada diariamente na nossa sociedade. Assim como os assédios e abusos físicos e psicológicos, a violência doméstica, o feminicídio e a cultura do estupro tornam a vida mais perigosa para as mulheres. Há uma autorização “velada” para matar as mulheres, a juventude negra e pobre, os povos tradicionais, pessoas LGBTQI+. A isso se somam as garantias de acesso fácil a armas e o fim de políticas de prevenção e combate à violência sexista.
A classe trabalhadora sente na pele os resultados da política nefasta do governo Bolsonaro, sua ação de desestruturação do Estado nas áreas da saúde e assistência que vem jogando milhares de pessoas para o desemprego e a miséria, especialmente as mulheres e a população negra que já viviam na informalidade e subempregos.
Sofremos com desmontes e privatizações nas áreas da saúde, educação, assistência, bem como nas empresas públicas e bens comuns, como temos visto com a Eletrobrás, Petrobrás, Correios. Essa é uma política sistemática desde a aprovação da Emenda Constitucional 55 (a PEC do Teto de Gastos, também conhecida como PEC da Morte), que foi votada em 2016 com total apoio de partidos da direita.
Todos eles são responsáveis pelo caos que estamos “vivendo”. Colaboraram para o avanço do negacionismo, mas agora tentam se distanciar de Bolsonaro e surfar na onda da conquista da vacina produzida pelo Instituto Butantã, como faz o PSDB.
Sentimos os resultados desta política genocida do governo, pois podemos afirmar que Bolsonaro atuou para disseminar um vírus mortal entre a população que hoje está desamparada e contando com um SUS (Sistema Único de Saúde) fragilizado e com a própria sorte para sobreviver.
Bolsonaro é o responsável por esse fundo do poço em que nos encontramos: sem saúde, sem segurança, sem direitos, sem dignidade. Bolsonaro faz tudo isso com amplo apoio de setores políticos e econômicos reacionários e de fundamentalistas religiosos, além da bancada ligada a militares e aos latifundiários. Avançam sobre nosso trabalho, nossa terra, nossos corpos.
Há apenas um caminho para estancar esta política de morte, fome e desemprego que nos assombra, que é realidade de milhares de lares brasileiros: o impeachment imediato de Bolsonaro e de todo seu governo militarizado e corrupto.
Por isso, neste 8 de março, em todo o mundo, as mulheres seguem lutando e criando condições práticas para que a vida sobreviva, e aqui seguimos mobilizadas com indignação e fúria feminista para exigir o impeachment do governo genocida de Bolsonaro.
Nossa saída é à esquerda: só com organização popular, feminista e antirracista intensa, poderemos tirar a direita do poder e reorganizar a economia, colocando a vida no centro das preocupações e das políticas.
Uma amostra disso são as ações construídas nacionalmente para o dia 8 de março, que conectam mulheres do campo, cidade, águas e florestas. As ações de solidariedade se conectam à exigência do auxílio emergencial e da vacinação para toda a população. Esse é o cotidiano das mulheres que sustentam, ao mesmo tempo, a luta e a sobrevivência.
Precisamos tirar Bolsonaro para poder construir alternativas de vida, recuperar a democracia, colocar o cuidado e a vida digna no centro da política.
Lourdes Simões
Marcha Mundial das Mulheres
