“A palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós.” (João 1,14)

Deus, desde sempre, caminha na história com a humanidade e de modo especial se revela nos momentos mais difíceis. O povo em sua aflição grita sua dor e Deus escuta e toma posição. “Estou vendo muito bem a aflição do meu povo que está no Egito. Ouvi seu clamor diante de seus opressores, pois tomei conhecimento de seus sofrimentos.

“Desci para libertá-los“ (Ex. 3,7e seg.). O Deus da vida armou sua tenda e acompanhou Moisés e seu povo no deserto no longo caminho da Páscoa de libertação. Ele continua caminhando conosco, de um modo especial, no mistério da encarnação, Natal. “Pois Deus amou tanto a humanidade que enviou seu Filho único” (João 3,16-17). Mais uma vez no meio do sofrimento e da opressão quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher. (Gal. 4,5)

No Natal o Deus vivo entra da história na humildade de um menino envolto em faixas, deitado numa manjedoura. Se torna gente como nós, nascido de mulher trabalhadora, Maria, e José carpinteiro e por isso será chamado o filho do carpinteiro.

O Anúncio é feito a pastores, gente excluída da sociedade, trabalhadores desprezados e marginalizados. Estrangeiros o reconhecem e trazem seus dons. Sua família tem que fugir e ele experimenta a vida de refugiado em terra estrangeira. (Mt.2).

Jesus revela com gestos e palavras a plenitude do amor do Pai “Nele estava toda plenitude de Deus”. (Jo 1,18) Ele é o rosto humano do Deus que liberta e que eleva os humildes. Ele se torna humano no corpo para que o nosso corpo de homens e mulheres possa ser divino. O desafio do Natal, do mistério da encarnação, já é posto no evangelho “ele veio na sua casa e os seus não o reconheceram” (Jo.1,11).  Não tinha lugar para eles na pousada. (lc.2,7)

Como reconhecer Jesus hoje? Será que nós o estamos acolhendo verdadeiramente? Olhamos o mundo e percebemos que os humildes são desprezados. Onde encontrar o rosto do menino envolto em faixas na manjedoura e correr como os pastores para conhecê-Lo?  Jesus nos mostra o caminho: “Pois Eu tive fome e vocês me deram de comer. tive sede e me deram de beber, era estrangeiro e me acolheram, estava nu e me vestiram, estava na cadeia e vieram me ver.” (Mt. 25,35-36). Esta é a dimensão misteriosa da Encarnação de Jesus, a identificação com aqueles que são, excluídos, postos a margem da sociedade e a quem é negada vida digna. Hoje são milhões de pessoas vivendo esta situação. Não é só atitude de acolhida pessoal, mas existe uma dimensão social.  Trabalhadores desempregados buscando dignidade e vida  no trabalho negado, camponeses sem terra para produzir seu sustento, milhões de famílias sem casa , moradores de rua, indígenas que veem suas terras invadidas e sua cultura negada, negros atingidos pelo racismo e a desigualdade, mulheres violentadas em sua dignidade, jovens nas periferias, na maioria negros,  atingidos pela violência, idosos, doentes , crianças e adolescentes abandonados, grupos atingidos pela homofobia e de varia formas de discriminação, imigrantes, que não são acolhidos em muitos países,  que encontram dificuldade para recomeçar uma nova vida.

A encarnação de Deus coloca um grande desafio para cada um de nós e para toda sociedade, resgatar a vida e construir outro mundo onde haja lugar para todos. Mas o Natal tem o um anúncio que foi dado aos pastores que representam todos os excluídos da sociedade: “Não tenham medo! Porque eis que lhes anuncio a Boa Notícia, uma grande alegria para todo povo: hoje na cidade de Davi nasceu para vocês um Salvador que é o Messias e Senhor. isto lhes servirá de sinal: vocês encontrarão um menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.” (Lc.2,10-12) Uma grande esperança, o novo entra na história e traz vida e alegria como nos diz o profeta Isaias:” Os humildes aumentarão sua alegria no Senhor e os mais pobres se rejubilarão no Santo de Israel” (Is. 29,19) Não é a alegria das luzes e das festas do Natal. Mas “Apareceu a verdadeira luz e o sol da justiça ilumina a humanidade a partir do menino” o que estava nele era a vida, e a vida é a luz dos seres humanos. Essa luz brilha nas trevas e as trevas não a venceram” (JO.1,4-5) É uma luz que rasga as trevas da mentira, do obscurantismo, da violência da opressão e escravidão é o Deus libertador que convida a trabalhar para que os pobres e humildes se levantem e encontrem sua dignidade e seus direitos na sociedade. No Natal ecoa a palavra do profeta: “Eu quero, isto sim, é ver brotar o direito como água e correr a justiça como torrente que não seca.” (Amos 5,24). Esta alegria nasce da certeza de que Deus continua, hoje, caminhando com seu povo, sustenta a esperança de todos que dedicam sua vida na organização do povo para a defender o direito e a justiça. Natal incentivo, nestes tempos difíceis, a sustentar a luta para realização de uma sociedade solidaria, de partilha, de igualdade e fraternidade. “Felizes os que tem fome e sede de justiça porque serão saciados, felizes os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos Céus.” (Mt. 5,6,10). Junto com José e Maria, o menino envolto em panos na manjedoura anuncia para nós uma palavra que fortalece nossa esperança e nos traz alegria.

“Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância.” (Jo. 10,10)

A todos um Feliz Natal

“A palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós.” (João 1,14)
Fonte da Imagem: Iluminar

Ricardo Paris

Pastoral Operária de Campinas – SP