A classe trabalhadora: se mexer mais, antes que seja tarde demais
Os golpistas fizeram uma grande manifestação no dia 25 de fevereiro, em São Paulo capital. De maneira oficiosa, o governo Lula cancelou as atividades oficiais previstas para marcar os 60 anos do golpe militar de 1964. As manifestações da esquerda, realizadas no dia 23 de março, foram um grande fracasso de público. As pesquisas vêm indicando uma queda de popularidade do governo. Vários prognósticos apontam que esquerda deve obter um resultado fraco nas eleições municipais de 2024. Os golpistas seguem realizando atos e mobilizações em diversas cidades do país. Os partidos do chamado Centrão controlam parte importante do orçamento federal e tentam impor um parlamentarismo de fato. Os meios de comunicação e as forças armadas, embora aqui e ali façam juras de amor pela democracia, seguem os mesmos de sempre. Isso vale para as polícias, especialmente as militares, que demonstram mais capacidade de matar jovens-pretos-pobres-periféricos do que em combater o crime. Enquanto isso, o grande empresariado segue ganhando muito dinheiro, enquanto os pequenos, os trabalhadores e a imensa maioria do povo seguem passando por imensas dificuldades.
Há na esquerda brasileira diferentes interpretações acerca da situação resumida no parágrafo anterior. Alguns dizem que a situação está complicada, mas vai melhorar ali na frente, quando o povo perceber que o governo está trabalhando bem. Ou quando se superarem os problemas de comunicação.
Evidentemente, a situação atual pode se alterar muito. E devemos trabalhar para que se altere. Mas até para que façamos isso, é preciso assumir que, ao menos a preços de hoje, a situação não é positiva. A principal dificuldade é que, para usar as palavras do presidente Lula, nossas realizações estão “aquém” do que prometemos. Há problemas muito sérios em várias áreas do governo. É o caso, por exemplo, da Defesa, da Comunicação e da Educação. As reformas trabalhista e previdenciária não foram revogadas. O salário-mínimo cresceu pouco, os preços seguem subindo, os empregos pagam pouco e, muitas vezes, sem proteção trabalhista.
A verdade é que a economia não vai tão bem quando dizem alguns. As condições de vida de uma parte importante do povo continuam muito difíceis. A arrecadação cresce menos do que seria necessário. Os investimentos e, de maneira geral, as verbas dedicadas à diversas áreas do governo são menores do que precisamos. Já há contingenciamento orçamentário. E boa parte disso acontece por causa da política de juros altos e por causa do déficit zero.
No caso dos juros altos, trata-se de uma herança cavernícola, contra a qual não fizemos tudo o que podíamos fazer (pois o governo poderia ter forçado a demissão do presidente do BC, assim como deveríamos ter mantido a crítica pública aos juros altos num tom mais alto).
No caso do déficit zero, trata-se de uma opção errada feita por nosso governo. Pois, embora haja quem debite o déficit zero na conta da maioria conservadora do congresso nacional, a verdade é que esta proposta surgiu por opção livre e soberana da equipe econômica comandada pelo ministro Fernando Haddad. Em nome do déficit zero, fala-se até em acabar com o piso constitucional da saúde e da educação.
Além disso, a maioria conservadora do congresso faz um bloqueio contra diversas tentativas de ampliação da receita do governo, ao mesmo tempo que privatizam o orçamento público.
Para mudar esta situação, precisamos fazer vários movimentos, no governo, no Partido, no conjunto da esquerda. Entre esses movimentos, têm enorme importância as lutas sociais e a mobilização de rua.
Entretanto, desde 2013 até agora, temos tido crescentes dificuldades para mobilizar. E o auge disto (ou o fundo do poço) foram as minúsculas mobilizações de 23 de março. Isto precisa mudar, já. É preciso, por exemplo, fortalecer as mobilizações do primeiro de maio de 2024 e a Marcha a Brasília convocada também para maio de 2024. Assim como é preciso reforçar a luta em defesa da Palestina. A visita de Tarcísio e Caiado ao carniceiro que governa Israel é a prova de que, para a extrema direita, os métodos genocidas estão na ordem do dia. Cabe reagir à altura, em defesa da humanidade. Por fim, mas não menos importante, é importante que a classe trabalhadora vá à luta por seus direitos, em todos os terrenos e de todas as formas que for possível. Só a luta, muita luta, salva.
Valter Pomar é professor da Universidade Federal do ABC e membro do Diretório Nacional do PT
Fonte da Imagem: Por Richard Casas/PT