Livro dos Macabeus: Martírio e Resistência Inspirado nos Trabalhadores(as)

Ler o Livro dos Macabeus no atual contexto de exploração e morte que estamos vivendo é um desafio muito grande para nós. Ele não contém doutrina ou palavras confortadoras, nem personagens muito conhecidos. Por isso, vale a pena conhecer essa história e entender as motivações, o processo alicerçado na fé que sustentou uma revolta popular e saber mais desse momento que foi decisivo para Israel mostrar sua cara diante das nações. Macabeus quer ser luz para os trabalhadores e trabalhadoras de nosso tempo, propor uma ideologia de resistência, entender que a revolta tem um caráter libertador contra o poder dominante.

Os livros deuterocanônicos de 1 e 2Macabeus retrata a luta de judeus que lutaram contra a dominação helenística sobre Israel no reinado de Antíoco IV (175-164 a.EC). A redação dos livros compreende o período aproximado de 134 a.EC. e 100 a.EC.

Livro dos Macabeus: Martírio e Resistência Inspirado nos Trabalhadores(as)
Fonte da Imagem: Mistérios Bíblicos

Antíoco Epífanes, filho do rei Antíoco, exerceu poder e atacou Israel com forte exército, não somente com pretensões de cunho religioso e cultural, mas querendo transformar a Palestina em “terra do rei”, arrecadar dinheiro para pagar a dívida externa, incrementar o comércio de escravos, tributar o templo e quebrar a resistência do povo. Por outro lado, os judeus resistem, motivados pela fé em Deus, defendendo a Lei, o Templo, o direito do cidadão (2Mc 13,14), lutando contra a exploração do tributo, lutando contra a ameaça de perder a terra, lutando por amor aos irmãos.

Numa ousada tentativa de impedir a destruição de seu povo, o avanço da cultura grega e do escravagismo, em detrimento das tradições clânicas, Matatias, sacerdote da família de Joarib, e seus cinco filhos (dentre eles, Judas Macabeu) levantaram-se como forma de resistência contra os opressores e incitaram seu povo a lutar contra o exército do rei Antíoco. Contudo, pelo descumprimento da lei imposta, muitos israelitas foram mortos sob o forte comando dos sírios, sem qualquer defesa ou revide.

Matatias e seus amigos ficaram sabendo do ocorrido com seus irmãos, e, num ato trágico, decidiram reagir aos ataques, pois, caso contrário, todo o seu povo seria exterminado da terra. Matatias é morto, e seu filho Judas Macabeus ficou em seu lugar, sendo ajudado por seus outros irmãos e por aqueles que haviam se unido a seu pai na promessa de combater os estrangeiros. Judas Macabeus encorajou-se dizendo que a vitória nessa guerra não dependeria do número de combatentes, mas da força que vinha do céu.

Os israelitas, liderados por Judas Macabeus, mesmo sendo minoria em relação aos milhares de soldados gregos, venceram a batalha contra a opressão e iniciaram a restauração de suas crenças, costumes e organização circular e igualitária em seu território.

A heroica saga dos Macabeus, lutando contra a dominação assíria, serve de referência para duas coisas importantíssimas: martírio e resistência. Nesta perspectiva, é importante analisar a atual conjuntura do capitalismo em nossa sociedade e seu impacto na vida da classe trabalhadora, visando realizar uma reflexão sobre o trabalho e modo coletivo de resistência, principalmente num momento em que se verifica a acentuação da exploração dos trabalhadores, a supressão de seus direitos sociais, a expansiva degradação das relações e condições de trabalho, a precarização do trabalho, o desemprego, e por fim, o descaso criminoso do atual governo com a saúde do(a) trabalhador(a) perante uma pandemia que vem ceifando milhares de vidas por dia.

Livro dos Macabeus: Martírio e Resistência Inspirado nos Trabalhadores(as)
Fonte da Imagem: P.O. Campinas-SP

Os Macabeus são exemplos para todos os cristãos de que é preciso servir a Deus antes que os homens, mesmo que custe muito sacrifício, luta e morte. Traz à consciência do povo a necessidade de insurgência e insubordinação contra todo e qualquer governo incapaz de promover a justiça e a paz.

Por fim, os Macabeus nos deixam o desafio de não esmorecer na luta pelo povo, pelas coisas justas, pela verdadeira liberdade que teimosamente se mantém no horizonte da nossa fé. Como afirmou Judas Macabeus: “Restauremos a ruína de nosso povo! Lutemos por nosso povo…!”

Romualdo Polonio

CEBI Campinas