Deus nasce, nasce para você, por você; nasce por causa do Seu amor infinito, amor concreto e real: nasce por amor. Deus nasce, entrando pela porta dos fundos na história da humanidade. Nasce criança pobre. Terá vida pobre, vida de trabalho: é trabalhador. Lendo os textos Sagrados, percebemos que Jesus se move naturalmente no contexto dos pobres e no contexto de quem trabalha para ter o pão à mesa. Neste sentido, o trabalho dignifica a pessoa, humaniza a pessoa. E, trabalhando, Jesus santificou o trabalho. Ele trabalhou com suas próprias mãos, trabalhou em prol dos outros, dignificando a vida de seus irmãos. É consolador e bom saber: cada um de nós é importantíssimo para Deus. O melhor que o Pai tem, o Seu Filho Único, ele o envia até nós, para o meio dos seus mais amados. E envia o seu Filho de um jeito que possamos entender: como criança, gente como nós. E tem nome: Jesus, filho de mãe Maria e pai José.
É Natal, é a festa do nascimento de Jesus Cristo. Natal é a manifestação da humildade do Pai. O que o Pai quer dizer às pessoas através do Natal, com o nascimento de Jesus que se faz pessoa? Ou: o que significa para mim e para você a Encarnação do Verbo? Deus, rico acima de todas as coisas, quis viver conosco e para nós. Assim, percebemos que o Filho do Altíssimo deixou suas riquezas divinas para se vestir da pobreza humana. O Pai, por amor, enviou o Seu Filho bendito a nós, para nossa salvação. Assim e por isso, um Menino santíssimo e dileto nos foi dado e nasceu por nós no caminho e foi colocado na manjedoura, porque ele não tinha um lugar na hospedaria. O Natal é este movimento de descida, que a Palavra do Pai assumiu, deixando a sua glória divina para fazer-se pessoa pobre entre as pessoas pobres e colocadas à margem. E para nascer para nós, Ele não tem exigências: é simples, pobre e humilde: é Deus. Deus assim é.
O mesmo movimento que a Palavra assumiu em fazer-se pessoa, assume na Eucaristia: Eis que diariamente Ele se humilha, como quando veio do trono real ao útero; diariamente ele vem a nós em aparência humilde, diariamente ele desce do seio do Pai sobre o altar nas mãos do sacerdote. Assim, cada Missa é Natal, pois o Filho do Pai nasce nas mãos do Sacerdote, sobre o Altar. Deus faz caminho em direção a nós. É o movimento do amor que impulsionou o Filho a deixar o seio do Pai para vir e viver pobremente entre nós. Deus é humilde: caminha sempre para baixo e ao encontro; Ele sai de Si e vai ao encontro para amar e Se dar. É o jeito de Deus. Nós também fomos feitos capazes de sair de nós mesmos e ir ao encontro dos outros. E fomos criados para sermos pequenos e caminhar para baixo, como Jesus nos mostrou, desde a cama do presépio até a cama da cruz. Tudo por amor.
Natal é acolher Jesus e o Seu jeito de ser e viver. Ele é humilde e amável, e sempre vai ao encontro para se dar, buscando criar fraternidade e um mundo de relações divinas, onde todos realmente sejam da família de Deus e irmãos entre si. A humildade da pessoa será o dom de si mesmo a Deus, em resposta à iniciativa do amor divino. Doar-se pelo outro é atuar, fazer acontecer de novo a Encarnação, o Natal de Deus; é ser Natal para a outra pessoa. Por amor do Pai, recebemos o seu Filho. Por nosso amor, a outra pessoa pobre, recebe nossa doação, merece nosso empenho, nosso amor, nossa vida. Que sejamos NATAL para a outra pessoa. Feliz Natal para você e para sua família. Deus abençoe vocês.
Dom João Inácio Müller
Arcebispo da Arquidiocese de Campinas – SP