Nascimento Novo

Nascimento Novo
Fonte da Imagem: Pastoral Operária Campinas – SP
Presépio Natalino.
Fonte da Imagem: Pastoral Operária Campinas – SP

NASCIMENTO

NOVO

FRÁGIL

VULNERÁVEL

PEQUENO

INSIGNIFICANTE

POUCO

TUDO

DECISIVO

RUPTURA

NOVA FORMA

FORÇA NOVA

CRIAÇÃO

RE-CRIAÇÃO

TUDO ISTO PODE SER NATAL…

UM PEDAÇO DA PRÓPRIA INTERIORIDADE

UM PEDAÇO DA EXTERIORIDADE

UM PEDAÇO DE UMA TRADIÇÃO OU TRADIÇÕES

UM PEDAÇO DE EXTRANHEZA

UM PEDAÇO DE LIBERDADE

UMA POSSIBILIDADE

UMA FESTA DO FOGO NA NOITE MAIS ESCURA

UMA NARRATIVA DE NASCIMENTO DE UM MENINO NO ORIENTE

UM COMETA

UMA POSSIBILIDADE

Tudo que envolve esta celebração do natalício de Jesus de Nazaré tem características de fragilidade, vulnerabilidade, cheiro de pobreza, de espacialidades da margem. Nazaré, o local da anunciação é uma pequena aldeia fora da Judeia – referência principal do judaísmo, onde fica Jerusalém. Fica na Galileia, onde também se professava o judaísmo como religião, mas de um modo diferente do templo de Jerusalém, a fé de um jeito mais encarnada no cotidiano do povo, menos legalista.

Foi aí nesta aldeia que vivia uma jovem de nome Maria. Mulher pobre, simples, humilde, parte deste povo galileu que esperava uma boa nova, que ansiava com esperança por novos tempos. Novos tempos com menos sinais do aperto da mão poderosa de Herodes (governador geral daquela região), do aperto das mãos dos sacerdotes do templo de Jerusalém, do aperto da escassez de alimento e tantos outros sofrimentos que o povo sob regime autoritário e explorador sofre. A esta jovem Maria foi concedida a graça e alegria de ser mãe de uma criança que viria a ser uma estrela brilhante nos caminhos de escuridão do povo.

Toda narrativa desta anunciação e deste nascimento está repleto de sinais especiais e comuns ao mesmo tempo. Anjo, estrela cometa, gruta onde animais se recolhiam, pastores de ovelhas, reis magos viajantes. Toda a composição deste “presépio” (na linguagem popular aqui no Brasil) envolve personagens comuns e um cenário com sinais do cosmos. O comum que se transforma em algo extraordinário na narrativa e na tradição: Uma criança nasce de uma jovem e humilde mulher aldeã. Algo comum, desapercebida para a maioria, nada inédito. Por que este fato comum se torna tão especial e extraordinário?

Estas narrativas sobre este nascimento de Jesus, filho de Maria e José, é escrita bem depois da morte de Jesus, pelas comunidades que abraçaram a Boa Nova que este nazareno espalhou por toda Galileia, Judeia e até na Samaria. Esta Boa Nova compreendida pelas comunidades tem duas pontas, dois símbolos que ficaram para nós: numa das pontas está a CRUZ e na outra ponta a ESTRELA brilhante na escuridão. Sem a cruz não haveria a estrela luminosa. Como assim? Cruz e estrela?

As pessoas das comunidades que seguem o projeto de Jesus de Nazaré em sua grande maioria eram pessoas que viviam em situação de sofrimento e exclusão social, por vários motivos, enfermidades, pobreza, viuvez e outros conforme relatos nos evangelhos. Na frágil/forte ação missionária de Jesus essas pessoas encontraram acolhimento, cuidado, dignidade, justiça, misericórdia, amorosidade e questionamento à ordem religiosa, cultural e social. Uma nova proposta de sociedade estava colocada, e esta, por sua vez, desestruturava os pilares religiosos e culturais deste tempo e espaço. A convicção e coerência vivida e proclamada por Jesus leva-o à morte de cruz. E este fim trágico seguida da ressurreição é a chave para o entendimento e confissão das pessoas a Jesus como Salvador, Libertador, anunciada pelos profetas Isaías e Zacarias.

Assim, esta criança pobre, nascida da humilde Maria, numa gruta de animais, visitada por pobres pastores de ovelhas e magos viajantes, vira uma estrela brilhante que veio para iluminar os caminhos sombrios da vida do povo. Estrela cometa, extraordinária, com coro de anjos cantando ao menino. Luzes e cânticos de alegria transformaram o cotidiano de muitas pessoas naqueles tempos idos. Este Jesus de Nazaré é o Cristo Libertador. Este é o Deus encarnado entre nós! A promessa cumpriu-se!

Assim, a celebração de Natal é um acontecimento de luz e cânticos de alegria, de esperança, de novos tempos, de renovação, de recriação. À luz da fé podemos vivenciar este Natal como os pastores de ovelhas, com toda simplicidade, com deslumbramento, com luz para nossos caminhos, com encontros humanizadores e alentadores. À luz da fé temos a possibilidade de celebrar a esperança de libertação e salvação de todos os males que nos afligem social e individualmente.

Haidi Jarschel

Teóloga Luterana