A minha história vocês conhecem pelos Evangelhos. Sabem como fui tratado, do nascimento à morte. Da manjedoura à cruz. Conhecem os poderes que me mataram. Fui assassinado por lutar contra o sistema e pregar a justiça do Reino.
Não vim ao mundo predestinado a morrer assassinado. Ninguém veio e não sou diferente. Esta história de que meu Pai me enviou para morrer e salvar a humanidade do pecado é invenção dos poderosos para encobrir seu crime. Transferindo a responsabilidade pelo meu assassinato para Deus. Vim ao mundo para que tenhamos vida e vida em abundância. Infelizmente, o direito dos pobres à vida digna é afronta ao privilégio dos ricos. Ainda hoje continua sendo assim.
Diante de Anás, Caifás e de Pilatos tive um julgamento covarde, criminoso, desumano e injusto. Fui condenado, flagelado e crucificado. Julgamento igual tiveram as 450 famílias do Acampamento Marielle Vive, em 23.11.21, diante dos três desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. As quase 1000 pessoas, entre elas, 150 crianças, poderão ser jogadas na rua pela decisão de um poder judiciário terrorista e serem condenadas à cruz da fome, do desemprego e da pandemia, que já totaliza mais de 600 mil vítimas.
Este despejo, se for efetivado, é a coroa de espinhos e a crucifixão que os magistrados, corrompidos pelo poder econômico, pretendem impor às famílias sem-terra, completando a flagelação que já vem sendo imposta pelo também corrompido poder local, desde que elas ocuparam a Fazenda Eldorado Empreendimentos Imobiliários. Flagelos que vão da negação da escola para as crianças, serviço de saúde, água potável, energia, passando pela violência policial, defesa viciada e fraudulenta da posse da terra pelo proprietário, espionagem de P2 e culminando no assassinato do seu Luis Ferreira.
Se vocês dizem me seguir, mas apoiam este despejo e são incapazes de se indignarem contra este ato criminoso, hediondo e terrorista dos desembargadores do TJ-SP, da prefeita e da juíza de Valinhos. Se ao invés de defenderem as famílias sem-terra, destilam seu ódio nas redes sociais contra elas, então, vocês não são cristãos, nem meus seguidores, muito menos meus discípulos. Não foi esta a Boa Nova que lhes ensinei.
Neste Natal não venham me ver nas igrejas, nem se emocionar com cantos natalinos e verter lágrimas com presépios e encenações, onde o gesso substitui a carne. Vocês não vão me encontrar nesses lugares cheirando a incenso. Quer celebrar o Natal de verdade? Então, venham encontrar comigo, no Acampamento Marielle Vive e em cada acampamento do Brasil e do mundo. Estarei esperando por vocês.
Wilson Lopes
Acampamento Marielle Vive Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra – Valinhos – SP
