O desafio da reconstrução do Brasil

O mês de agosto está diante de nós e com ele o início da campanha eleitoral no rádio e na televisão em uma das eleições mais emblemáticas de todos os tempos no Brasil. Nesse cenário devemos nos preparar para uma campanha eleitoral turbulenta e com consequências imprevisíveis, com o presidente Jair Bolsonaro minando ativamente a confiança na integridade do sistema eleitoral do país à medida que a violência política e a intimidação proliferam.

O desafio da reconstrução do Brasil
Fonte da Imagem: Monitor do Oriente

Quem acha que a vitória de Lula é certa precisa examinar melhor os dados disponíveis e as pesquisas eleitorais. Bolsonaro tem sólidos 30% do eleitorado e pode crescer muito, como aconteceu em 2018, utilizando-se à farta de Fake News e mentiras contra os seus adversários. Como sabe que no campo econômico não tem muito que apresentar, o foco de sua campanha será a guerra cultural centrada na pauta de costumes. Usando muito bem as mídias sociais esta estratégia será intensificada principalmente nas vésperas do pleito.

Essa estratégia desenhada por Bolsonaro e sua equipe é não convencional e subterrânea. Explico. Ela utiliza com muita propriedade grupos de WhatsApp, Telegram e outras ferramentas de comunicação, assim como se beneficia da imensa rede bolsonarista inserida no movimento neopentecostal como Assembleia de Deus, Igreja Universal do Reino de Deus dentre outras, que tem uma capilaridade imensa no interior do país e nas grandes cidades. Acrescenta-se se a isso as centenas de rádios evangélicas espalhadas pelo país que de forma explícita fazem com muita eficiência a guerra cultural contra as ideias progressistas e de esquerda. Na perspectiva deles, não obstante os pobres estarem comendo osso trata-se de uma guerra santa do bem contra o mal.

Outro dado complicador é que os ricos e endinheirados do país, não obstante, se sentirem abismados com o risco de golpe que se avizinha, além de impactados com o ritmo da destruição do país, não expressam de forma contundente sua oposição ao fascismo. A Carta aos Brasileiros assinada nas últimas semanas por juristas, empresários e inúmeras personalidades pode significar o desembarque de uma fração das elites brasileiras do apoio ao governo. Contudo, ainda é cedo para afirmar com segurança, as consequências práticas, os impactos e a intensidade desse movimento.

Quanto aos progressistas eles precisam diminuir o salto alto (“o já ganhou”) e compreender que derrotar Bolsonaro nas urnas será apenas o primeiro passo do longo processo de reconstrução do país, que passará, num primeiro momento, pelo encerramento dos horrores políticos, sociais, ambientais e pandêmicos que vivemos. Para essa tarefa precisaremos contar com muita gente para além da bolha esquerdista. Por isso considero acertada a estratégia eleitoral de ter o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como vice do Lula. Parafraseando Beto Guedes, vamos precisar de todo mundo para banir do país o caos e a barbárie que se estabeleceu nos últimos anos. A outra tarefa, mais complexa, será a retomada de certa ideia de pais que se perdeu nos últimos anos à direita e à esquerda. De um lado com o entreguismo e de outro com a radicalização das pautas identitárias desarticuladas de um projeto de nação onde caibam todos.

Arnaldo Valentim Silva

Diretor de Escola