Não é de hoje que ouvimos notícias e sentimos na pele os efeitos do aquecimento global, o que está acontecendo?
Estão sendo registradas grandes ondas de calor e temperaturas recordes no mundo inteiro (o estado do Texas, nos Estados Unidos, chegou a registrar 50°C e algumas regiões da China alarmantes 52°C). Sabemos que o calor extremo afeta especialmente os grupos mais vulneráveis e coloca em rico a vida dos mais pobres (que precisam sair de casa mesmo em dias muito quentes – correndo risco de insolação e outros problemas de saúde – muitas vezes trabalhando ao ar livre ou em ambientes sem aparelhos de ar-condicionado). A esta realidade somam-se os incêndios florestais cada vez mais devastadores que destroem a mata nativa e a fauna, afetam a vida dos povos da floresta e intoxicam o ar das grandes cidades.
Há quanto tempo não se ouvia falar em ciclone no Brasil? Nos últimos anos desastres ecológicos tem sido cada vez mais frequentemente capas de jornais. Há menos de um mês um ciclone extratropical com ventos de 140 km/h deixou mais de 1 milhão de moradores do Sul do país sem energia elétrica. No Nordeste as chuvas torrenciais desabrigaram 27 mil habitantes.
O dia 6 de julho de 2023 foi o mais quente já documentado (segundo dados do Centro Nacional de Previsão Ambiental dos Estados Unidos). Na Antártida, o gelo marinho atingiu sua menor extensão em um mês de junho (17% abaixo da média).
Uma das explicações para o problema do calor extremo é o fenômeno El Niño mas é preciso apontar as raízes mais profundas desta realidade: a ganância capitalista pelo lucro e a exploração não levam em consideração a aproximação do fim do mundo por meio da destruição dos ecossistemas. Nenhum acordo climático entre as nações obteve sucesso nos últimos anos e, enquanto os mais ricos continuam enchendo suas poupanças, os mais pobres morrem juntamente com a natureza.
O capitalismo, apesar das inúmeras promessas e ilusões que apresenta, traz desemprego, fome e morte por meio de suas crises. Ao mesmo tempo em que vemos inúmeras notícias enaltecendo novas tecnologias (como a Inteligência Artificial), a barbárie se apresenta para nós por meio da miséria, da destruição da natureza e da violência. Os governos do mundo todo se unem para manter os privilégios da classe dominante e manter privilégios é sinônimo de massacrar os pobres. Para que haja mais gente rica ou para que os ricos ganhem ainda mais dinheiro é necessário que haja sempre mais gente pobre e explorada.
Temos hoje no Brasil a impressão de que só existem dois campos políticos: a situação (que apoia o atual governo) ou a oposição (ultradireita bolsonarista). Isso nos cria a ilusão de que talvez o atual governo vá realizar grandes mudanças econômicas para melhorar a vida dos trabalhadores. Mas sabemos que nem no Congresso Nacional nem no interior das maiores organizações de esquerda do nosso país temos posições majoritárias contrapondo-se tanto ao bolsonarismo quanto ao governo capitalista dirigido por Lula e Alckmin.
Lula vem aprovando medidas que atendem aos interesses da burguesia e dos grandes grupos capitalistas. O Arcabouço Fiscal já está quase aprovado e vai retirar verbas da Educação e da Saúde, para garantir a remuneração dos banqueiros.
O governo está lutando no Congresso Nacional para impor a Reforma Tributária que, assim como as recentes reformas da previdência, trabalhista e do Ensino Médio, não está a favor dos trabalhadores e irá aprofundar a injustiça tributária (trabalhadores e trabalhadoras continuarão a pagar muito mais impostos do que os ricos e as grandes empresas).
Além disso, repetindo as práticas econômicas dos últimos governos brasileiros, a gestão atual distribui isenções fiscais e incentivos para os grandes empresários (pagos evidentemente com dinheiro público): R$ 250 bilhões no Plano Safra (para empresas do agronegócio) e R$ 800 milhões para montadoras de veículos populares.
O governo também não se envergonha em anunciar parcerias público-privadas com a possiblidade de novas privatizações e concessões e, com a desculpa de “atrair investimento” para o Brasil, chama multinacionais para pagarem salário de miséria sem contrapartidas sociais.
No estado de São Paulo sofremos com as ações do governador Tarcísio que, ao mesmo tempo em que tira os livros das escolas, realiza chacina no litoral dizendo estar “muito satisfeito” com as mortes. Desde que o novo governo assumiu em janeiro de 2023, houve um aumento de 26% no número de mortes provocadas por policiais militares em serviço.
Tudo isso não acontece, obviamente, sem a resposta da classe trabalhadora. Temos visto mobilizações pelo país (como as recentes discussões pela revogação da Reforma do Ensino Médio e contra o Marco Temporal), mas ainda há uma retração do movimento sindical e dos movimentos sociais que, em grande parte, ainda apoiam ou apostam fichas em respostas mais efetivas do governo aos problemas atuais.
Alguma esperança também surgiu nos últimos dias com a possibilidade de resolução do caso Marielle Franco. Apontar os mandantes do crime pode ser uma arma contra a ultradireita que se mantém organizada e disposta a voltar ao poder.
É preciso que os trabalhadores unifiquem suas lutas contra os inimigos comuns. É preciso criar um projeto de país que acolha de fato as necessidades da classe trabalhadora, dos pobres, das mulheres, das pessoas LGBTQIA+, dos povos indígenas, dos negros, dos imigrantes e de todos os explorados e oprimidos. Um projeto que combata o desmatamento, os incêndios, a mineração criminosa e assassina. Demarcação justa e urgente para as terras indígenas. Uma alternativa concreta à atual polarização política se faz urgente e isso não poderá ser feito sem independência de classe. Ainda há quem prefira acreditar no fim do mundo a apostar no fim do capitalismo, mas a unidade das lutas da classe trabalhadora ainda é a melhor alternativa para uma sociedade igualitária, justa, livre de opressões e socialista! Veja também…
Carlos Henrique Caetano
Professor de Filosofia da rede pública