Quando comecei a escrever esse texto tentei responder a seguinte pergunta: O que mudou na cidade de Campinas com a eleição de Dário Saadi. Essa resposta não pode ser resumida a um pequeno texto, mas tento aqui apontar algumas pistas e uma possível resposta seria: Somente alguns nomes que compõem o governo.
O governo Jonas se caracterizou por um descaso completo com a saúde de Campinas, com falta de diálogo com a população e com as organizações sociais da cidade.
Agora temos Dario Saadi governando Campinas e nada parece ter mudado. Isso já era de se esperar, pois afinal foi o mesmo grupo que governou a cidade nos últimos 8 anos foi o que se sagrou vencedor nas eleições de 2020. Continuamos com sérios problemas em várias áreas sociais, principalmente na área da saúde e na baixa valorização da cultura.
Como se não bastasse a falta de priorização para as áreas sociais, temos também problemas de gestão. Uma curiosidade trágica para a nossa cidade se deu no campo da saúde. Várias autoclaves foram compradas, mas a gestão não se preocupou com o tamanho do equipamento que não entra nas salas dos centros de saúde. Autoclave é um aparelho utilizado para esterilizar materiais e artigos médico-hospitalares.
O que temos visto, de maneira superficial, é a abertura ao diálogo por parte do prefeito e de seus secretários. No entanto, ainda percebemos um descaso com o debate mais amplo sobre temas importantes para a cidade. Exemplo disso foi a consulta pública para receber contribuições da população para subsidiar a elaboração do edital de concorrência para a parceria público-privada destinada a investimentos e prestação dos serviços de gestão integrada de resíduos sólidos urbanos, a chamada PPP do Lixo. Inicialmente a consulta pública ficaria somente 30 dias aberta e com somente uma audiência pública. Tempo insuficiente para o debate de um dos contratos mais custosos para a cidade, estimado em R$ 8 bilhões de reais e com duração de 30 anos. A população teve que se mobilizar, capitaneada pelo Fórum do Lixo, para ampliar o prazo de discussão do documento. Além disso, por conta da pandemia, as audiências públicas estavam sendo feitas de forma on-line, o que dificulta, ainda mais, a participação popular.
Também ocorreu nesses primeiros 9 meses a apresentação de um plano de metas do governo Dario. E o que, a princípio, seria uma boa notícia virou motivo de piada. As metas do governo não eram metas. Uma meta deve ser específica, mensurável, com uma data para sua realização e com recursos disponíveis para sua execução. O que o governo apresentou foi simplesmente uma lista de prioridades sem estabelecer meta alguma. Bem conveniente. A organização Minha Campinas fez até uma pressão sobre a prefeitura para que eles apresentassem as metas reais, mas não obteve êxito.
Por outro lado, para não ficarmos somente nas notícias ruins, Campinas lidera o ranking das maiores cidades no quesito vacinação levando em conta a segunda dose ou dose única. Em um país com um presidente genocida, que nega a vacina, isso deve ser muito comemorado.
E o que nos aguarda no futuro próximo: Dois grandes contratos públicos requerem a participação da população: 1. PPP do Lixo que abrirá uma licitação para contratar um serviço de coleta pelos próximos 30 anos. 2. Licitação do transporte urbano que extinguirá o contrato atual que está irregular desde 2016 e irá inaugurar de fato os corredores do BRT.
Com um governo avesso ao diálogo e querendo fazer tudo à sua maneira sem a participação popular, o que precisamos é fortalecer os movimentos populares para pressioná-lo, garantir o debate público suficiente para as decisões relevantes para a nossa cidade e garantir que a vontade coletiva seja respeitada.
André Luís Bordignon
Professor do IFSP Campinas e Coordenador do Conselho Político do Mandato Cecílio Santos