Política: Prática Social da Fé

(Reflexão a partir do caderno/cartilha “Encantar a Política”)

Política: Prática Social da Fé
Fonte da Imagem: CNLB

Pela Cartilha Encantar a Política recebeu a seguinte provocação: “nenhum cristão pode permanecer alheio à tarefa de contribuir para que a sociedade se torne mais justa, solidária e fraterna” (p. 3). Essa contribuição é, nas palavras do Papa Francisco a “forma mais sublime de caridade” (p.8).

“Amar ao próximo como a ti mesmo” (Mc 12: 30-3) está sempre na boca daqueles que se entendem como cristãos. E realmente esse é o maior de todos os mandamentos sociais. Antes dele está o amor a Deus. Mas na prática nem sempre o amor ao próximo está conciliado ao amor-próprio. E é justamente neste ponto que a cartilha nos auxilia.

Observar que em nossa prática de fé nada tem sentido se não for para construir um mundo melhor em convivência com as irmãs e com os irmãos. A prática cotidiana deste amor e cuidada mútuo, essa busca pelo bem comum é chamada de Política. Palavra de sentido amplo, antiga, talvez até em desuso em sua função primeira e infelizmente interpretada como uma palavra pejorativa nos tempos atuais.

Para viver em comunidade faz-se necessário ética, orientações de convívio e regras. E para se viver melhor em sociedade, ou para se fazer uma sociedade melhor para todos os seres humanos, se faz necessário a prática cotidiana deste amor ao próximo, da empatia, da solidariedade, da caridade, logo da fé cristã.

Em tempos de fome e miséria, solidarizar-se com a necessidade da irmã, do irmão, que clama por socorro é o mínimo necessário para a prática cristã. Depois de solucionar o problema momentâneo, é importante, também, questionar o que levou àquele problema e buscar as causas, as raízes de tantas mazelas sociais.

É necessário estudo, para compreendermos teorias políticas importantes para a organização em sociedade, e até para questioná-las com qualidade e desenvolvermos ideias que se encaixem melhor nos tempos atuais. Todavia, discussões infundadas, pautadas em mentiras e desinformações atrapalham o aprofundamento nos temas pertinentes. Portanto é preciso então tomar os cuidados necessários.

É necessário também compreendermos que o sistema econômico vigente caminha para a morte, é desigual e empobrece cada vez mais as pessoas neste nosso país. A elite econômica se mantém historicamente sob uso da mão de obra, do tempo, da vida e até dos ideais da classe trabalhadora, dos pobres, das mulheres, das negras e dos negros e comunidades indígenas e quilombolas. As minorias em direito sustentam a minoria rica e dominante. Quase que como uma função natural e imutável.

As causas condicionais que levam a estas mazelas estão estruturadas em projetos autoritários, antidemocráticos, elitistas, capitalistas de produção e exploração, consumistas e higienistas. Temos exemplos aos montes. Infelizmente, neste período de pandemia da Covid-19, o discurso do Governo Federal corroborou para a desinformação da população e causou centenas de milhares de mortes à custa da falácia de se manter a economia ativa.

Abster-se da política é, segundo Francisco, abrir mão da mais importante prática de caridade. Por isso somos convidados a nos envolver, sobretudo em movimentos sociais, pastorais urbanas e rurais, coletivos, manifestações e empoderamento da população, que auxiliam na formação e orientação política da sociedade e fazem pressão sobre o Estado, que tem como obrigação a manutenção da vida e do bem comum para a população.

Neste ano de 2022 somos convidados a participar ativamente com nosso voto. Mas a eleição é só uma parte da prática política, importante, mas que sozinha não tem toda a força de mudança. É preciso conhecer bem aquelas e aqueles em quem confiaremos os nossos votos, cobrarmos que façam pelas minorias, acompanharmos o processo e manifestarmos quando o rumo certo não for seguido.

A nossa luta é por uma sociedade justa, fraterna, que preze pelo amor e paz entre os seres humanos, que edifique o bem comum, e que cuide do Planeta Terra, nossa Casa Comum. E somos convidados a praticar nossa fé na sociedade, a sermos políticos, envolvidos, participantes.

Rodolfo Medina

Filósofo, Professor e Membro do CNLB – Conselho Nacional do Laicato do Brasil