Santo Dias e os Direitos Trabalhistas

Imagem do Selo em Homenagem a Santo Dias - 44 Anos de Memória
Fonte da Imagem (alterada): Site do frei Gilvander Moreira

Os direitos trabalhistas nem sempre existiram, nem caiu do céu ou foi um “presente” de algum político eleito que fez um favor com o dinheiro público. Os direitos trabalhistas foram fruto de muita organização e luta dos trabalhadores e das trabalhadoras durante a história. Com a queda do feudalismo e o fortalecimento do recém-criado capitalismo, os trabalhadores e as trabalhadoras se viram numa situação difícil. Seu processo artesanal não conseguia competir com os processos das recentes indústrias.

Assim se viram obrigados a trabalhar para outros e receber o suficiente para sobreviver e mal. Eram 16 horas de trabalhos diários, sem nenhuma segurança contra acidentes de trabalho, muito fatais, sem direito a férias, 13º salário, FGTS, aposentadoria, descanso semanal remunerado… se trabalhasse recebia uma miséria pelo trabalho que fazia, se não ficaria sem nada. Se o patrão quisesse te mandava embora no meio do dia, sem nada. Não havia legislação, sindicato, justiça. Era o que os liberais chamam de autorregulação, ou seja, os patrões regulam e os trabalhadores obedecem.

Porém os trabalhadores e trabalhadoras pensaram, e se perceberam como classe. Começaram a se organizar, no que depois foram chamados de sindicatos. Esta organização levou a manifestações: atos, greves, exigências. Não foi fácil, muitos apanharam da polícia, outros foram mortos…, mas a luta continuou e muitos direitos foram conquistados. Porém mesmo depois de conquistados, a luta foi para mantê-los. Afinal os empresários não aceitaram de bom grato a perda de seus lucros.

No Brasil não foi diferente. Muitas lutas… avanços e retrocessos. Em 1968, os empresários ao perceberem um fortalecimento da classe trabalhadora, acionou as forças repressoras disponíveis (no caso as forças armadas) e deram um golpe, impondo restrições, prendendo, matando… tudo para destruir as organizações da classe trabalhadora e diminuir suas forças. Porém os trabalhadores foram se reorganizando pelo Brasil afora. Na cidade de São Paulo não foi diferente. Nos sindicatos as diretorias foram colocadas pelas forças repressoras.

Por isso, os Metalúrgicos se organizaram enquanto Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo. Eram várias forças políticas que atuavam, entre elas a Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo. Foram anos realizando trabalho de base, com formação e organização. Neste trabalho de base vários nomes da Pastoral Operária se destacavam: Waldemar Rossi, Anízio Batista, Maria Aparecida, Raymond Perillat, Santo Dias… Claro que a Pastoral Operária não organizou a categoria sozinha, mas deu uma grande contribuição no processo (arrumando locais nas igrejas para as reuniões, promovendo momentos de formação, ajudando na comunicação e até mesmo ajudando a esconder perseguidos políticos).

Imagem artigo do jornal da época sobre "Santo Dias na força de sua memória faremos justiça"
Fonte da Imagem: Sindicato dos Metalúrgicos

Santo Dias era um dos que se destacava, por sua capacidade de dialogar e organizar os trabalhadores. Sua presença nas comunidades, enquanto membro da Pastoral Operária e da CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), ajudava as pessoas a assumirem seu compromisso cristão pela defesa da vida, junto as organizações de bairro e de classe. Sempre disposto a ouvir e procurar a ajudar cada pessoa que chegasse a ele. Por ser uma liderança forte, mas de fácil diálogo, ele foi visto como perigoso pelo sistema repressor e deveria ser eliminado. Por isso, ele foi assassinado com dois tiros pelas costas, enquanto estava saindo de um piquete de uma fábrica em Santo Amaro, no dia 30/10/1979. Porém a luta continua, como gritavam seus companheiros e companheiras de luta. E como fruto desta luta, veio a Constituição Federal de 1988 e a conquistas de vários direitos trabalhistas.

Porém a classe empresarial não ficou quieta. Desde então busca desmontar a Constituição Federal e as Leis Trabalhistas. E pior que avançaram muito. Com o enfraquecimento dos Movimentos dos Trabalhadores e dos Movimentos Populares, assim como a educação de que não somos trabalhadores (via tv, rádio, jornal, internet, ou qualquer outro meio disponível) a classe empresarial conseguiu retirar muitos de nossos direitos e não efetivar outros garantidos por lei.

Para honrar a luta de tantos homens e mulheres que deram suas vidas (seja dando horas e dias na luta, seja por ter sido assassinado), entre eles Santo Dias, precisamos continuar lutando. Porém a luta não se fortalece da noite para o dia. A História nos mostra que é preciso organização e formação. Formação e organização. Este processo é lento, mas fundamental. Mudança não vem de cima para baixo. Mudança de verdade só vai acontecer com pressão popular. Por isso temos a missão de levar a cada trabalhador e cada trabalhadora a vontade de lutar e se organizar e mais a vontade de se formar. Só assim poderemos a médio e longo prazo conseguir mudanças e não somente esmolas, enquanto as riquezas ficam com a classe empresarial. Veja mais …

Viva Santo Dias!

Viva a Classe Trabalhadora Organizada!

Viva o Reino de Deus!

Eduardo Paludetti

Pastoral Operária Estadual