Falar da morte exige respeito e silêncio reverencial. Em tempos de pandemia com 602 mil falecidos no Brasil, o Dia de Finados deve ser remédio para as dores das famílias enlutadas. Precisamos chorar e rezar com cada família. Consolar juntos!
Viver a arte de morrer exige uma fé forte. O livro do profeta Ezequiel, no capítulo 37, relata a visão de ossos secos em um grande planalto. Os ossos estão ressequidos porque a esperança desapareceu e o povo está esfacelado (v.11). Sem esperança e divididos, como mortos. Ezequiel clama ao Espírito de Deus para que sopre sobre os vivos sem esperança. A esperança é essa: que Deus firme a aliança de paz e vida! Assim podemos prantear as memórias, e buscar coragem na luta dos vivos para superar o governo genocida que produziu tanta morte inocente nas famílias.
Na hora da morte, nunca estamos sozinhos. Deus está conosco. Ao observar um defunto, vemos os restos mortais, mas sabemos que volta para Deus, por quem foi criado e para quem vive e convive pela eternidade. Nosso corpo mortal é revestido de carne, pele, sopro vital e da imortalidade, pois somos criaturas amadas pelo Pai Celeste. Somos feitos de um tecido mortal embelezado por fios eternos. Quando miramos o verso do bordado, só vemos as costuras e os nós emaranhados. Quando passamos pela hora da morte, seremos virados pelo avesso e veremos a beleza daquilo que Deus bordou em nós, no corpo e na alma: essa beleza do amor que fecunda nossa vida, que é o segredo da verdadeira beleza pessoal. Nada da beleza se perde, tudo das feiuras se apagam. A vida penetra como água na terra fértil; desaparece, mas não se perde. Some da vista, mas fecunda as sementes, forma os lençóis freáticos e sobe tal como vapor ascendente até chegar a Deus. Como ensinou o cientista Louis Pasteur falando dos micróbios: “A vida preside o trabalho da morte”. Dando sentido ao viver estaremos sempre preparados para acolher a irmã morte, como São Francisco, que canta ao final da sua frágil vida: “Louvado sejas, meu Senhor, pela Irmã nossa, a morte corporal, da qual nenhum homem vivente pode escapar”. E, proclamar com Gabriel Marcel: “Amar é dizer: tu não morrerás jamais!”. A hora atual exige que as comunidades soprem forte sobre os ossos secos para alimentar a esperança. Um sopro de amor!
Prof. Fernando Altemeyer Junior – (PUC-SP)
Fonte da Imagem: Jornal da PUC-SP