
Márcia Regina Mineiro
• Formada em História pela faculdade de Araras;
• Professora aposentada da Rede Municipal de Ensino de Pirassununga;
• Professora de história da rede pública do Estado de São Paulo;
• Membro não liberada do Sindicato dos Professores.
1- Conte-me da sua história de vida:
Márcia: Minha avó nasceu em Paraguaçu, MG e veio de Pirassununga fugindo da fome. A neta voltou para Minas, em Alfenas para fazer faculdade – quero morar em Minas.
2- Quem é Marcia Regina Mineiro?
Márcia: Sou Professora da Rede Pública Estadual e Professora aposentada da Prefeitura de Pirassununga. Sou Professora de História na rede pública estadual e enfrento muitas dificuldades.
3- Sinta-se à vontade para fazer a lista das suas dificuldades:
Márcia: Ser Professora com esse governo fascista está muito difícil. O novo plano de carreira do Doria, tira direitos dos professores. Tudo muito difícil.
4- Você tem acompanhado as propostas do Governo Estadual? Como?
Márcia: Pelo Sindicato e por mensagens de zap.
5- Como a categoria está reagindo às propostas do Governo Estadual?
Márcia: Os professores estão revoltados com a escola de tempo integral. Estamos presos à questão burocrática. Muitos estão adoecendo – a proposta do governo “amarra” o(a) professor(a) 40 horas dentro da escola, sem aumento de salário significativo.
6- Você é participante ativa do Sindicato?
Márcia: Sim, sou representante do Sindicato dentro da escola.
O sindicato não é o “melhor dos mundos”, mas é o que temos para denunciar o assédio e outros problemas. Nos oferece assessoria jurídica e espaço para a discussão dos problemas.
7- Quais são os grandes desafios da Educação hoje?
Márcia:
- Não existe um projeto de educação com começo, meio e fim. Esse projeto deveria INCLUIR TODO MUNDO, mas ele não existe. Com a pandemia ficamos mais longe da qualidade da educação;
- A BOA VONTADE DOS PROFESSORES NÃO É O SUFICIENTE PARA RESOLVER OS PROBLEMAS – PRECISA DE VONTADE POLÍTICA;
- É PRECISO OUVIR OS PROFESSORES – OUVIR QUEM ESTÁ COM O GIZ NA MÃO;
- Se fala muito que tem de conhecer o aluno – Pedagogia da presença – IMPOSSÍVEL VIVER ISSO COM 45 ALUNOS EM SALA. Existe DICOTOMIA entre teoria e prática;
- Existem profissionais, especialistas, que dizem que o salário não deve influenciar no trabalho, mas isso não é real. O professor vive com medo, medo dos alunos, medo dos pais, medo da equipe gestora. E o enfrentamento do medo passa pela questão salarial. Como enfrentar ameaças se nosso salário é apenas para sobrevivência? E as novas categorias de professores estão cada vez mais vulneráveis, sem direito algum;
- Os jovens não estão preparados nem para a vida, nem para o mercado de trabalho – NÃO ESTÃO PREPARANDO PARA NADA. Ouve-se falas absurdas;
- Tem sido muito difícil – o Professor está desalentado – CHEGA A SER HUMILHANTE – Dentro da sala de aula os alunos falam o que quer, do jeito que quer. Os pais e mães perderam o controle.
8- Destas falas, o que mais te marcou?
Márcia: A atitude racista de uma aluna: deixava recados racistas nos livros, nos locais que eu estaria, para eu ver. Aquilo me abalou. Simplesmente por eu ser negra.
9- Fale um pouco mais sobre o racismo. Você compartilha do conceito de racismo estrutural?
Márcia: Outro dia ouvi de uma profissional da educação:
Você é muito orgulhosa, você é muito questionadora.
Perguntei o que estava querendo dizer, não me respondeu.
SEI QUE A ATITUDE QUE SE ESPERAVA DE MIM É QUE EU FOSSE PASSIVA, ACOMODADA.
Djamila Ribeiro, no livro Quem Tem Medo do Feminismo Negro, fala das questões, das atitudes que são impostas hoje ao povo negro. Entendo que essas imposições fazem parte do racismo estrutural.
10- Como a Márcia enfrenta no dia a dia essa “atitude passiva” que se espera da mulher negra na sociedade brasileira?
Márcia: Já fui muito reservada. Hoje o que eu tenho de falar e falo. Mesmo que seja besteira eu falo. Depois eu dialogo, conserto, resolvo. Mas entendo que o importante é falar, denunciar, discutir os problemas.
11- E a luta sindical, como iniciou?
Márcia: Sempre fiz as minhas lutas, mas agora decidi assumir a luta, formalizar. Antes eu priorizei a família e os filhos. A entrada no sindicato é bem recente. Acredito na luta pelas questões amplas da educação: SALÁRIO, CONDIÇÕES DE TRABALHO.
O Sindicato precisa resgatar a IMPORTÂNCIA E VALORIZAÇÃO DOS(AS) PROFESSOR(AS).
FORA DA EDUCAÇÃO NÃO TEM SOLUÇÃO.
12- Como está lidando com o colega professor hiper conservador?
Márcia: Já debati muito. Agora me acalmei. Estava me fazendo mal.
Penso que os(as) colegas talvez não sejam conservadores, eles(as) são da extrema direita, mas talvez nem sabem o que estão defendendo. Eu me afastei porque conversar não adianta.
Não entendo que conservadorismo é esse. É muita HIPOCRISIA. Me pergunto se é consciente e onde estava essa gente. No início entrei em choque. Tem uma cumplicidade com a HIPOCRISIA.
Mas me preocupo. 32% da intenção de voto é muita gente.
E como dizemos aqui no interior: O VOTO NÃO TEM PREÇO, ELE TEM CONSEQUÊNCIA.
13- E qual é a solução? Você vê algum caminho?
Márcia: Qual é o modelo para retomar a consciência política da população?
EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO, EDUCAÇÃO.
Faço parte de um coletivo de Leme que está fazendo um trabalho político. Dividiu-se em núcleo e cada núcleo busca voto em sua região. Eu estou buscando voto – rss
14- E qual é a solução? Você vê algum caminho?
Márcia: Estamos arregaçando as mangas, A Pastoral Afro está participando, outros grupos também. Não estou sozinha. Isso faz a diferença. Precisamos conversar para trazer a Pastoral Operária para participar.
15- Mas não tem Pastoral Operária em Leme!
Márcia: Então precisamos criar. rss
16- O que te sustenta?
Márcia: Eu acredito que podemos fazer um mundo melhor para todo mundo. Que eu possa colaborar para que este mundo seja melhor para todas(os):
JOVENS, MULHERES, NEGRAS, NEGROS e não apenas para uma pequena parcela da humanidade.
Eu estou fazendo a minha parte no dia a dia.
O FATO DE VOCÊ ESTÁ DISPOSTA A ME OUVIR JÁ É MARAVILHOSO.
FIM OBSERVAÇÃO:
Entrevista realizada em 03/03/2022.
Márcia Regina Mineiro é uma mulher objetiva. Ao se apresentar já manifesta sua realidade – sou professora e efrento muitas dificuldades. Sem preâmbulos vai “direto ao ponto”, aos problemas e desafios que o momento apresenta. Relata as dificuldades da sua história com naturalidade e parece tirar delas a força para a luta cotidiana contra o fascismo e a retirada de direitos. Com um sorriso no rosto conta suas angústias e superações, e convida para a luta com a naturalidade de quem convida para um café ou um Chopp. RESILIÊNCIA é uma palavra que parece se encaixar tranquilamente com sua vida.
Despertou em mim a esperança de um projeto conjunto…
Afinal, por que não? Campinas e Leme contra o fascismo!
Mas isso é assunto para um próximo encontro.