
Neste Ano dedicado a São José, somos conduzidos, pelo Papa Francisco, a aprender do carpinteiro de Nazaré, cujos movimentos eram acompanhados por Jesus, Menino que nasceu em Belém. Neste sentido, Papa Francisco, na Carta Apostólica “Com coração de pai”, sublinha várias dimensões da paternidade de S. José, tais como, a ternura, a obediência, o acolhimento, a coragem criativa e, também, a sua missão como trabalhador. Esses movimentos eram observados por Jesus e ‘fizeram’ Jesus. São José foi um pai trabalhador. Jesus foi trabalhador.
Um aspeto que caracteriza São José é a sua relação com o trabalho. São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão, fruto do próprio trabalho.
O trabalho torna-se participação na própria obra da salvação, oportunidade para apressar a vinda do Reino, desenvolver as próprias potencialidades e qualidades, colocando-as ao serviço da sociedade e da comunhão com os irmãos e irmãs; o trabalho torna-se oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas sobretudo para aquele núcleo originário da sociedade que é a família. Uma família onde falte o trabalho está mais exposta a dificuldades, tensões, fraturas e até mesmo à desesperada e desesperadora tentação da dissolução. Como poderemos falar da dignidade humana sem nos empenharmos para que todos, e cada um, tenham a possibilidade dum digno sustento?
A pessoa que trabalha, seja qual for a sua tarefa, colabora com o próprio Deus, torna-se em certa medida criadora do mundo que a rodeia. A crise do nosso tempo deve constituir para todos um apelo a redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho para dar origem a uma nova ‘normalidade’, em que ninguém seja excluído. O trabalho de São José lembra-nos que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho. A perda de trabalho que afeta tantos irmãos e irmãs e tem aumentado nos últimos meses devido à pandemia de Covid-19, deve ser apelo a revermos as nossas prioridades. Neste sentido, Papa Francisco não se cansa de bradar: “nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!”
Jesus é o carpinteiro (Mc 6, 3), trabalhador. Trabalha, a exemplo de São José e de Seu Pai: “Meu Pai trabalha até agora, e eu também trabalho” (Jo 5, 17). Sabe que o trabalho dignifica a pessoa; quer que cada um conquiste sua dignidade vivendo a vocação do trabalho. Neste sentido, ninguém fica excluído do movimento justo do ganha-pão: todos são convidados a tomar parte da labuta, na vinha (Mt 20, 1-16).
Nosso Papa Francisco insiste que Deus criou a pessoa para continuar o Seu trabalho: trabalho é a continuação da obra de Deus: o trabalho humano é a vocação do homem recebida de Deus ao término da criação do universo.
É o trabalho que torna o homem semelhante a Deus, pois com o trabalho o homem é criador, é capaz de criar, de criar muitas coisas; até mesmo de criar uma família para seguir em frente, ensina Papa Francisco. É a primeira vocação do homem: trabalhar. E isto dá dignidade ao homem. É a dignidade do trabalho que o faz assemelhar-se a Deus.
Certa vez, numa Caritas, a um homem que não tinha trabalho e fora à procura de algo para a família, um empregado dessa entidade deu-lhe algo para comer e disse: “Pelo menos podes levar o pão para casa” – “Mas isto não me basta, não me é suficiente”, foi a resposta: “Quero ganhar o pão, a fim de o levar para casa”. Faltava-lhe a dignidade, a dignidade de “fazer” o próprio pão, com o seu trabalho, e de o levar para casa. A dignidade do trabalho, que infelizmente é tão espezinhada.
Jesus, que nasce em Belém – e que quer nascer em nós e nas realidades deste mundo, inclusive nas relações de trabalho –, inclui seus discípulos em sua obra de missionário do Pai. Hoje, confia a nós o trabalho de continuar sua missão, como o fizera aos seus discípulos: agora, é a vez de vocês: ide pelo mundo inteiro (Mt 28, 19-20); vai e faze tu o mesmo (Lc 10, 37); dai-lhes vós mesmos de comer (Mc 6, 34-44).
Nasce Jesus trabalhador, que passou toda vida criando, redimindo e salvando. Acolhamos Jesus Menino e deixemos que Ele nos inspire a continuar o Seu trabalho.
Dom João Inácio Müller – Arcebispo de Campinas – SP
Feliz Natal 2021. Abençoado Ano Novo.